18|09|2025

Especialistas falam sobre Inteligência Artificial, ensino presencial e interdisciplinaridade

Especialistas discutem o impacto do mundo digital e da IA na educação, destacam a importância do contato presencial e como trabalhar de modo interdisciplinar

Alex de Souza, Sesi-SP
Fotos: Karim kahn/Sesi-sp, everton amaro/Fiesp e ayrton vignola/Fiesp

 

Na terça-feira (16/9), segundo dia do III Congresso Internacional de Educação do Sesi-SP, duas mesas redondas trouxeram para o debate temas atuais que impactam a educação. Na primeira delas, os professores Jan Masschelen e Walter Lippold abordaram “Pedagogia, Escola e Tecnologia: o que os estudantes se tornaram com a Inteligência Artificial”.

Masschelen destacou as mudanças significativas na educação que foram aceleradas pela pandemia. “Durante aquele período houve um movimento de valorização da escola. Os jovens descobriram a escola de uma forma diferente, mas também enfrentaram dois tipos de confinamento, como o isolamento com a família e a armadilha das redes sociais, onde a comunicação muitas vezes se resumiu ao reconhecimento social”, elencou.

 

 

Mundo real vs Mundo virtual

Segundo o professor, esse contexto levou os jovens a perceberem a necessidade de se conectar com o mundo físico, além do virtual. “Eles descobriram que é diferente estar em uma rede social, onde você é reconhecido, de estar em um espaço tridimensional, onde a presença e a interação têm outro significado”. 

O professor também comentou sobre o impacto da pandemia no trabalho dos docentes. “Assim como os alunos, os professores redescobriram o significado da escola. Estavam presos em casa, colados nas telas, ensinando a navegar entre programas e plataformas. Foi um desafio manter o acompanhamento dos alunos, que muitas vezes eram distraídos pelo ambiente familiar. Isso não significa falta de autorregulação, mas falta de um espaço que propicie disciplina e atenção”, apontou Masschelen. 

Para ele, a escola continua sendo essencial como espaço de conexão e emancipação, pois apresenta novos horizontes e permite que o trabalho escolar conecte os alunos ao aprendizado real. “Ir à escola, por si só, já é um ato emancipatório, uma evolução da vida familiar”, diz. 

O professor alertou para a necessidade de reinventar a escola diante do avanço digital. “Precisamos repensar a escola com o digital, criando práticas que promovam liberdade pedagógica e tempo para o mundo, evitando que os alunos fiquem presos em seu próprio universo”, resumiu.

 

Tecnologia como aliada, não substituta

Já o professor Walter Lippold trouxe uma reflexão sobre o uso da inteligência artificial na educação. “É possível transferir o uso da IA como ela é utilizada atualmente? Existe um evangelismo tecnológico, mas ela não é uma panaceia. Antes de usar uma calculadora, por exemplo, é necessário desenvolver o pensamento lógico-matemático, e isso também vale para a IA. Usá-la antes de aprender a lógica pode ser desastroso”, opinou.

 

 

Lippold enfatizou ainda o risco da padronização do conhecimento e defendeu soluções personalizadas e plurais. “Nenhuma tecnologia vai redimir a educação sozinha. É preciso desenvolver uma inteligência artificial brasileira, em português, contextualizada dentro das universidades, que ajude na formação de cidadãos críticos”.

O professor ressaltou o valor do ensino presencial e das interações pessoais. “A presença física é algo mágico. Estar olho no olho cria vínculos pedagógicos profundos que foram perdidos durante a pandemia. Precisamos usar a tecnologia de forma pedagógica e emancipadora, integrando dados e ferramentas de modo que contribuam para a formação de pessoas conscientes e críticas”, concluiu.

 

Tudo se conecta

Na mesa redonda “Formação por Áreas do Conhecimento: interdisciplinaridade e transdisciplinaridade – por uma religação dos saberes”, os professores Ivani Fazenda e Silvio Gallo discutiram os desafios de superar a fragmentação do conhecimento escolar. 

Fazenda destacou que não é possível pensar uma disciplina de forma isolada. “É difícil refletir sobre minha própria área sem considerar a disciplina do colega ao lado. Como falar de matemática sem enxergar as conexões com a história ou a língua portuguesa, quando na sala ao lado temos pessoas das ciências naturais?”, questionou. Para ela, a interdisciplinaridade exige diálogo constante entre professores e abertura para enxergar o aluno como ponto de encontro entre os diferentes saberes. 

 

 

E Gallo trouxe uma reflexão filosófica sobre o conhecimento. “Por que religar o que talvez nunca tenha sido ligado? Precisamos aprender a viver bem em meio às incertezas e não permitir que elas nos paralisem. O conhecimento não é uma unidade fixa, mas um rizoma, em que tudo é singular, mas tudo se conecta, sem começo e sem fim”, ponderou. 

Ele também apontou o risco da fragmentação do ensino. “Muitas vezes, os professores trabalham de forma unitária, reforçando a ideia de que o saber é único e fechado. Mas precisamos mudar o olhar, reconhecer a multiplicidade das coisas e pensar o conhecimento como uma rede viva de conexões”. 

Para ambos, a interdisciplinaridade vai além de somar conteúdos, trata-se de um movimento de integração que rompe as fronteiras entre as áreas e permite que a escola forme cidadãos capazes de compreender a complexidade do mundo.

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